Ação
afirmativa e a rediscussão do mito da democracia racial no Brasil[1]
Por Ricardo Oliveira
Por não ter sido construída nos
mesmos moldes dos EUA e da África do Sul, a sociedade brasileira acredita viver
uma democracia racial, visto que não existem e nunca existiram princípios legais
que caracterizassem conflitos raciais abertos (como o Jim Crow e o Apartheid).
Dessa forma, imaginar política de
ação afirmativa parece ser contraditório, pois se o país vive da crença de
igualdade racial, ou seja, o mito da democracia racial, não teria sentido criar-se
políticas com essa finalidade.
A crença no mito racial é
estruturante do sentimento de nacionalidade do brasileiro.
E, como dito por Florestan Fernandes, o
brasileiro tem preconceito de NÃO ter preconceito, ou seja, entre discurso e a
prática do povo existe um abismo social.
O mito da democracia racial
consolidou-se com a obra de Gilberto Freire, Casa Grande e Senzala, quando esta
ganhou status científico passando a
ideia de uma transição dentro da sociedade brasileira de forma otimista, sem
conflitos étnicos em que o senhor aparecia benevolente e disso resultaria
natural e gradativa ascensão do mestiço (mulato) na sociedade brasileira.
Apesar dessa constatação o mito da
democracia racial surgiu anterior à obra de Freire, mas foi a partir da
abolição e da Proclamação da República que foi possível pavimentar o cenário de
maneira a conformar a consciência coletiva no imaginário da sociedade
brasileira.
Nos dias atuais, o mito apoia-se
ainda sobre a ascensão do mulato e reconhecimento social do mestiço no Brasil.
Dito isso, é sempre bom termos em
mente a emergência de confrontarmos opiniões diversas e plurais a fim de encontrarmos soluções com a finalidade de superar estereótipos e estigmas infelizmente ainda
enraizados na sociedade brasileira, e porque não dizer no mundo, já que se
trata de buscarmos e quem sabe um dia, possamos dizer de verdade, sem
hipocrisia, que nos reconhecemos como irmãos neste planeta.
[1] BERNARDINO,
Joaze (2000). “Ação Afirmativa no
Brasil: A Construção de uma Identidade Negra?”. In Caetano E. P. Araújo et
alii (orgs.), Política e Valores. Brasília, Ed. da UnB.
(1999). Ação
Afirmativa no Brasil: A Construção de uma Identidade Negra?. Brasília. Dissertação
de Mestrado em Sociologia, Universidade de Brasília.
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