sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Ação afirmativa e a rediscussão do mito da democracia racial no Brasil

Ação afirmativa e a rediscussão do mito da democracia racial no Brasil[1]


Por Ricardo Oliveira

            Por não ter sido construída nos mesmos moldes dos EUA e da África do Sul, a sociedade brasileira acredita viver uma democracia racial, visto que não existem e nunca existiram princípios legais que caracterizassem conflitos raciais abertos (como o Jim Crow e o Apartheid).
            Dessa forma, imaginar política de ação afirmativa parece ser contraditório, pois se o país vive da crença de igualdade racial, ou seja, o mito da democracia racial, não teria sentido criar-se políticas com essa finalidade.
            A crença no mito racial é estruturante do sentimento de nacionalidade do brasileiro.
           E, como dito por Florestan Fernandes, o brasileiro tem preconceito de NÃO ter preconceito, ou seja, entre discurso e a prática do povo existe um abismo social.
            O mito da democracia racial consolidou-se com a obra de Gilberto Freire, Casa Grande e Senzala, quando esta ganhou status científico passando a ideia de uma transição dentro da sociedade brasileira de forma otimista, sem conflitos étnicos em que o senhor aparecia benevolente e disso resultaria natural e gradativa ascensão do mestiço (mulato) na sociedade brasileira.
            Apesar dessa constatação o mito da democracia racial surgiu anterior à obra de Freire, mas foi a partir da abolição e da Proclamação da República que foi possível pavimentar o cenário de maneira a conformar a consciência coletiva no imaginário da sociedade brasileira.
            Nos dias atuais, o mito apoia-se ainda sobre a ascensão do mulato e reconhecimento social do mestiço no Brasil.
            Dito isso, é sempre bom termos em mente a emergência de confrontarmos opiniões diversas e plurais a fim de encontrarmos soluções com a finalidade de superar estereótipos e estigmas infelizmente ainda enraizados na sociedade brasileira, e porque não dizer no mundo, já que se trata de buscarmos e quem sabe um dia, possamos dizer de verdade, sem hipocrisia, que nos reconhecemos como irmãos neste planeta.  



[1] BERNARDINO, Joaze  (2000). “Ação Afirmativa no Brasil: A Construção de uma Identidade Negra?”. In Caetano E. P. Araújo et alii (orgs.), Política e Valores. Brasília, Ed. da UnB.
(1999). Ação Afirmativa no Brasil: A Construção de uma Identidade Negra?. Brasília. Dissertação de Mestrado em Sociologia, Universidade de Brasília.

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