(Resenha) Por Ricardo Oliveira[1]
Inicialmente, gostaria de destacar
que este texto surge num momento muito oportuno, sobretudo do ponto de vista da
atual conjuntura pela qual passa a realidade da educação no Brasil e com
destaque para as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.
O tema central correlaciona a
psicanálise com educação, saúde e o capitalismo dando ênfase para o que a
autora denomina de ¨saúde da educação¨.
Segundo sua concepção, a educação não
anda muito bem por entender que o pragmatismo que pavimenta esse setor, tende a
renunciar a um modelo de ensino que deveria explorar melhor um modelo educacional
voltado para o campo das humanidades, comtemplando disciplinas como Filosofia e
Sociologia, por exemplo, conhecimentos estes evidenciados nos seminários de
Lacan[2]
Não obstante, mais do que formar sujeitos sob
a égide do capitalismo ou seja, mão de obra barata, formar um sujeito pensante,
crítico e reflexivo aqui e no mundo, e
para o resto do mundo em suas palavras:
¨Mais
do que formar mão de obra barata, a formação do sujeito deve ser priorizada.
Aqui e no mundo. Partamos das ideias de que as elites são avessas a que as
massas pensem isto é, aprendam a refrear seu gozo¨(BARROS,2015.pg 97).
Para leigos pode parecer confuso,
mas, de alguma forma ou em certa medida, a educação é consequência da castração
da energia pulsional, ou seja, impulsos ¨naturais¨ sobre nossos corpos.
Segundo a máxima Freudiana, educar,
governar e psicanalisar são profissões impossíveis, porque em sua concepção,
lidam diretamente com a castração do sujeito isto é, criam moldes e mecanismos,
digamos norteadores de comportamentos mais elaborados, sistemáticos ou a quem
preferir, contidos, castrados.
Dito isso, temos a concepção de que
a psicanálise é um produto da cultura dos mais sofisticados e que possibilita
por assim dizer, uma espécie de controle sobre o sujeito a fim de conter suas
descargas emocionais imediatas, criando tolerância à frustação de sentidos
assim descrito:
¨Sendo
a psicanálise um dos produtos mais sofisticados da cultura, ela o é, sobretudo
porque possibilita aos sujeitos o aumento de seu limiar de tolerância para a
frustração sem recorrer à descarga imediata, já que coloca nesse lugar o
pensamento, a elaboração, a ligação da carga energética às palavras¨(
BARROS,2015.pg 97).
E ainda, segundo Freud a psicanálise
seria uma espécie de ¨pós-educação¨ uma espécie de reeducação, uma segunda
chance de aumento da capacidade crítica e de eficiência, com a finalidade de
definir parâmetros mais confiáveis de seguir em frente na vida, superando
obstáculos com maior eficácia.
1.1 O
uso da ciência contra a educação
A ciência que se desenvolveu a
partir do renascimento cultural tinha como objetivo principal, a superação de
mazelas e suas causas, ou seja, o desenvolvimento de um conforto maior na vida.
Resumidamente, um controle da natureza em detrimento do desenvolvimento da
humanidade. O homem desenvolveu máquinas e tecnologias e identificou-se com esses
instrumentos.
Dessa forma, o campo da educação não
ficou alijado da influência que o capitalismo fez/faz ao usar descobertas
cientificas em seu próprio beneficio sobretudo com a intenção de obter lucro.
Faz-se necessário acrescentar que para obtenção do lucro pretendido, o sistema
precisa de ferramentas e dentre elas o uso da mídia é essencial, pois deve
haver demanda de ¨necessidades¨.
Ora,
nas palavras da autora: ¨Palavras quebram
ossos, vendem ilusões, criam demandas, mas também, como faz a psicanálise,
curam, despertam, fazem o sujeito ¨cair na real¨ (BARROS,2015.pg 100).
E
ainda: ¨Sabemos o quanto a infância tem
sido adoecida, crianças medicadas por serem apenas crianças, numa proliferação
de diagnósticos com consequente administração de psicofármacos¨. (IDEM)
Pensarmos estas questões associadas
aos interesses do capital, nos leva a crer que, não obstante, a psicanálise
passa pelo crivo de remediar demandas no seu campo de atuação. Mesmo Freud foi
acusado de atender a estes interesses, visto que a psicanálise sempre foi vista
como tratamento elitista, caro, ou seja, para poucos e que visava basicamente a
adaptação do sujeito ao status quo.
1.2
Sobre o capitalismo
O sistema capitalista possui em seus
meandros estratégias e instrumentos capazes de fazer com que através do mercado/consumo,
indivíduos acreditem que algo desenvolvido pela ciência é capaz de satisfazer
seu desejo/¨necessidade¨, tornando ¨produtos¨ essenciais para sua
sobrevivência.
Ao contrário do discurso
desenvolvido por Lacan[3], o
pensamento desenvolvido pelo capitalismo evidencia a promessa de eliminação de
necessidades criando objetos de desejos para dessa forma, angariar cada vez
mais fundos para fomentar e manter o sistema.
Dessa maneira, o que passa a existir
constatado por Lacan passa a ser o discurso capitalista em que o homem deixa de
ser gente e passa a ser servo do capital, dessa forma tornando-se mero
instrumento no processo de produção como diria Marx[4]
¨coisificado¨ dito em outras palavras:
¨Não
há liberdade alguma, o homem não tem outra escolha que não seja submeter-se à
lógica do mercado, oferecendo seu próprio corpo para implemento de um gozo a
mais(mais-valia) para o capitalista.¨ (BARROS,2015,pg103)
Nesse sentido, é um discurso atrelado
ao da perversão uma vez que transforma cada um em objeto de seu gozo, ou seja,
transforma o individuo em ser desejante, mas que responde somente aos
interesses do outro neste caso o capital.
Sendo assim, o discurso de um
analista torna-se comprometedor, pois é capaz de antepor-se ao discurso do
sistema.
1.3 A
psicanálise e a educação
Sigmund
Freud sabia que a educação era o instrumento capaz e necessário que possibilitava
ao ser humano aprender a controlar e adiar as satisfações oriundas das pulsões
que tem por objetivo como dito por Lacan, inibir, suprimir até mesmo proibir de
colocar em prática todos os impulsos.
Ainda
segundo Lacan a formação humana (a educação formal) possuiu em sua essência e
não ao acaso refrear o gozo, ou seja, resumidamente suprimir o princípio do
prazer versus o princípio da
realidade.
Dessa
maneira, o psicanalista deve pensar que a educação é capaz de controlar
aspectos destrutivos promovidos pela pulsão, pois que esta busca
incessantemente a satisfação e o gozo destituídos de obstáculos construídos
sistematicamente.
Não
obstante, em linhas gerais para quer possamos obter uma existência confortável
e soberana do ponto de vista dos sentidos que damos as coisas, para uma boa
convivência entre os iguais, o refreamento do gozo e o subsequente mal-estar
que possa ser ocasionado por tal evento, é o preço que devemos pagar
indubitavelmente por conta da
manutenção de convivência e sobrevivência dentro de uma cultura civilizada.
Em
suma tendo-se a castração do sujeito através da educação a fim de refrear seu
gozo, amplia-se a capacidade de reter, poupar e administrar melhor seus
comportamentos subjetivos nas palavras da autora: ¨Evita-se o desperdício de
vida¨(BARROS,2015,pg 105).
Relembrando
Freud em seus escritos sobre Mal-estar na cultura, ele observou que as massas
via de regra, são pouco propensas a adiar seus gozos pulsionais (pessoais) e
que de certa forma por vivermos em uma sociedade societária, acelerada por
processos midiáticos, tecnológicos/digitais, cada vez menos toleramos esse
adiamento pulsional, e temos como consequência disso, a destruição, a violência
contra o outro, o diferente. Leia-se: negros, pobres, indígenas, ciganos.
Dito
isso, revela-se que a educação não pode efetivamente dizer que efeitos e
resultados pode obter de antemão, mas certamente revelará ao indivíduo a
possibilidade de um agir mais propenso a cautelas oriundas de suas construções
mentais visto que este colocará a frente de seus impulsos iniciais recursos de
funcionalidade e objetividade em suas ações.
[1]
Graduado
em Ciências Sociais/Faculdade de Filosofia de Campo Grande e Pós Graduado em
Diversidade Étnica e Educação Superior/UFRRJ.
[2] Lacan estudou no
colégio Stanilas, dirigdo por jesuítas, escola particular que atende à alta
burguesia de Paris.
[3] Os discursos
desenvolvidos por Lacan consistiam no estudo das seguintes categorias que se
seguem: o da histérica, o da universidade, o da ciência e o do analista.
[4] Ler a obra ¨ O
Capital¨ de Karl Marx.
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