Por Bianca Wild
Ao pensarmos “Identidade” somos
remetidos quase que imediatamente ao RG, nosso registro civil, que
possuí um número para nos identificar e uma série
de outras informações que nos tornam “reconhecíveis”
para o “sistema”, para os olhos da lei, especialmente para
questões burocráticas. Nele consta nossa naturalidade
indicando em que estado nascemos, nacionalidade, indicando nosso
país, filiação e data de nascimento; contudo o
termo “Identidade” tem um outro sentido além de um
documento, sendo um conceito muito mais complexo e abrangente; afinal
não podemos nos “resumir” apenas em uma sequência
de números. Para Jurandir Freire Costa (1989), “(…)a
identidade é tudo que se vivencia (sente, enuncia) como sendo
eu, por ocasião àquilo que se percebe ou anuncia como
não-eu (aquilo que é meu; aquilo que é outro)
(…) “a identidade não é uma experiência
uniforme, pois é formulada por sistemas de representações
diversos. Cada um destes sistemas corresponde ao modo como o sujeito
se atrela ao universo sociocultural. Existe assim, uma identidade
social, étnica, religiosa, de classe; profissional, etc.”
E, justamente por dependermos da
interação e da constante socialização
para nos construirmos, que é importante o contexto no qual
estamos inseridos. Nesse sentido, cabe aqui iniciarmos uma discussão
acerca da sociedade em que vivemos, da sociedade de consumo. As
identidades acompanham as sociedades no que concerne a compreensão
de que ambas estão em processo constante de mudança e
adequação, se as instituições sociais
responsáveis pela formação dos indivíduos,
dentre elas podemos citar a escola, produziram ou ajudaram a produzir
discursos, é importante destacarmos que os sujeitos concretos
não cumprem literalmente aquilo que é prescrito através
dos discursos, fáceis de casar com o discurso neoliberal da
atual sociedade, na qual há um mercado para tudo, e, portanto,
um espaço “para todos”. Entretanto pouco se sabe, e pouco
se deseja saber, sobre as relações de poder que estão
na base da lógica da exclusão;
Nossa sociedade, contemporânea
ou “pós-moderna”, também pode ser chamada de
“sociedade midiática”, “sociedade do conhecimento”,
“da desigualdade social” e de “sociedade de consumo”. Consumo
e mídia são inseparáveis e mais, como afirma o
sociólogo Zigmund Bauman, ocorreu nos últimos tempos,
uma espécie de transformação das pessoas em
mercadorias a sociedade contemporânea “se distingue por uma
reconstrução das relações humanas a
partir do padrão, e a semelhança das relações
entre consumidores e os objetos de consumo” (BAUMAN, 2008, p. 19).
Bauman ainda conclui “numa sociedade de consumidores, tornar-se
mercadoria desejável e desejada é a matéria de
que são feitos os sonhos e os contos de fadas” (BAUMAN,
2008, p.22).
Nas últimas décadas
houve um aumento significativo do consumo em todo mundo, provocado
pelo crescimento populacional e, principalmente, pela acumulação
de capital das empresas que puderam se expandir e oferecer os mais
variados produtos, conjuntamente com os anúncios publicitários
que propõe, induzem e manipulam para o consumo a todo o
momento. Chamamos de consumo o ato da sociedade de adquirir aquilo
que é necessário a sua subsistência e também
aquilo que não é indispensável, ao ato do
consumo de produtos supérfluos, denominamos consumismo.
A “coisificação” dos
indivíduos, a valorização do corpo, da estética,
em detrimento de outros valores e qualidades tão importantes
nos seres humanos é evidente na sociedade em que vivemos.
Justamente por haver a necessidade de se “criar” sempre novos
consumidores, há um mercado para crianças, mulheres em
várias fases da vida, adolescentes, minorias, etc., é
preciso estimular o consumo e não deixar ninguém de
fora do círculo.
Oliveira e Costa (2005) Citam Frei
Betto:
“A publicidade sabe muito bem que,
quanto mais culta uma pessoa – cultura é tido aquilo que
engrandece o nosso espírito e a nossa consciência –
menos consumista ela tende a ser. Um pequeno exemplo: quem gosta de
música clássica certamente não contribuí
para enriquecer a indústria fonográfica. O que garante
fortunas que rolam nesta indústria é, a cada dia, o
consumidor experimentar uma nova banda, um metaleiro diferente;
porque, se não for assim, se ele gostar de meia dúzia
de compositores clássicos, o consumo será menor, pois
comprará apenas as novas interpretações dos
compositores da sua preferência” (BETTO, 2004).
Ou seja, como afirmam estes autores,
transformando o alvo, o indivíduo, neste caso o consumidor, em
passivo, dócil, apenas um espectador que não se sente
como sujeito da história, e muito menos tem impulsos
questionadores, ocorre um processo de inculcação de
valores, ideias e hábitos, pois em uma sociedade de massa, é
preciso estar sempre na moda, ser escravo das tendências. Não
se deve pensar, julgar ou avaliar de forma independente o que a mídia
nos oferece, basta consumir e se divertir.
Tendo como referencial as concepções
de Marx, que conceituou
Ideologia como um sistema de pensamento, ou seja, uma forma de
conceber o mundo que abrange, principalmente, os seus aspectos
sociais (relações entre os homens e a sua atividade);
"Visão do mundo", isto é, produto e reflexo
de uma época e de uma sociedade, mais especificamente de
grupos sociais reais, estratos e classes, expressando os seus
interesses, a sua atividade e o seu papel histórico; Não
seria, para este pensador, um sistema de pensamento neutro, pois para
ele a ideologia teria uma função que é a de
legitimar, justificar e contribuir, ou para a manutenção
da ordem social existente, ou para a sua transformação.
Marx compreende a ideologia como uma consciência falsa,
proveniente da divisão entre o trabalho manual e o
intelectual. 1O
papel da mídia, assim como de outros aparelhos ideológicos,
é justamente prescrever normas e representar a realidade de
forma que seja oferecida uma dada interpretação da
realidade social, de acordo com os interesses dos produtores da
ideologia. Fica claro que quem controla os principais meios de
comunicação, sobretudo os de massa, faz parte das
estruturas de poder nas sociedades. Nesse sentido, a estrutura não
só da nossa sociedade, como de outras se reflete na linguagem
da mídia de forma autoritária, elitista, desprezando a
cultura popular e voltando-se para a construção de
cidadão meramente consumidor, além de promover a apatia
política e o descompromisso com os reais problemas do povo
(OLIVEIRA; COSTA, 2005).
Para suprir as sociedades de consumo,
o homem interfere profundamente no meio ambiente, pois tudo que o
homem desenvolve vem da natureza, aqui nesse contexto é o
palco das realizações humanas. Através da força
de trabalho o homem transforma a primeira natureza (intacta) em
segunda natureza (transformada). É a natureza que fornece
todas as matérias primas (solo, água, clima energia
minérios etc.) necessárias às indústrias.
O modelo de desenvolvimento
capitalista, baseado em inovações tecnológicas,
na busca do lucro e no aumento contínuo dos níveis de
consumo ocasiona a necessidade de se criar novos mercados
consumidores constantemente, à medida que outro se extenua, as
pessoas, os indivíduos em uma sociedade de consumo são
valorizados pelo que tem e não pelo que são, cultua-se
o sucesso, o desperdício, em cada âmbito da vida é
necessário exibir uma performance espetacular, ser bem
sucedido financeiramente, possuir aparelhos eletrônicos de
última geração, vestir roupas das melhores
grifes, estar em forma, ter um bom automóvel etc., sem a
mínima preocupação com o futuro, com o meio
ambiente, pois em uma sociedade de consumo você precisa
comprar, mesmo sem necessidade, a efemeridade é o único
legado, tudo se esgota, tudo se perde, tudo que é sólido
se desmancha no ar, nessa sociedade é importante ter e não
ser .
Referências
BAUMAN, Zigmund. Vida para o consumo:
A transformação das pessoas em mercadoria. Rio de
janeiro: ZAHAR, 2008.
OLIVEIRA, de Luiz Fernandes; Costa, da
Ricardo Cesar Rocha.Sociologia: o conhecimento humano para jovens do
ensino técnico profissionalizante.1ª Ed. Petrópolis,RJ:
Catedral das letras, 2005.
1
Marx “o conceito de ideologia aparece como equivalente a ilusão,
falsa consciência, concepção idealista na qual a
realidade é invertida e as idéias aparecem como motor
da vida real” , Mannheim: “...ideologia é o conjunto das
concepções, idéias, representações,
teorias que se orientam para a estabilização, ou
legitimação, ou reprodução da ordem
estabelecida” e Löwy "“visões sociais do mundo
seriam, portanto, todos aqueles conjuntos estruturados de
valores,representações, idéias e orientações
cognitivas. Conjuntos esses unificados por uma perspectiva
determinada, por um ponto de vista social de classes sociais
determinadas”
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