Por Bianca Wild
Meu primeiro contato com a obra e o pensamento de Antônio Gramsci foi durante minha graduação em ciências sociais, confesso que até então, mesmo tendo iniciado a graduação em história dois anos antes, nunca havia lido o referido autor. Era necessário, como requisito parcial para aprovação em uma disciplina escrever um artigo sobre Gramsci e a sua concepção de educação, muito perdida, comecei a pesquisar. Ao ler a seguinte frase em um texto que fazia muitas referências a Gramsci: “A tendência democrática de escola não pode consistir apenas em que um operário manual se torne qualificado, mas em que cada cidadão possa se tornar governante” encantei-me e me senti muito mais motivada a concluir o artigo.
Meu primeiro contato com a obra e o pensamento de Antônio Gramsci foi durante minha graduação em ciências sociais, confesso que até então, mesmo tendo iniciado a graduação em história dois anos antes, nunca havia lido o referido autor. Era necessário, como requisito parcial para aprovação em uma disciplina escrever um artigo sobre Gramsci e a sua concepção de educação, muito perdida, comecei a pesquisar. Ao ler a seguinte frase em um texto que fazia muitas referências a Gramsci: “A tendência democrática de escola não pode consistir apenas em que um operário manual se torne qualificado, mas em que cada cidadão possa se tornar governante” encantei-me e me senti muito mais motivada a concluir o artigo.
Alguns dos conceitos cunhados ou destacados
por Gramsci tornaram-se amplamente conhecidos, como o de cidadania e hegemonia
por exemplo. Gramsci destacou a discussão pedagógica acerca da conquista da
cidadania como um dos principais objetivos da escola, afirmando que deveria ser
orientada para a promoção cultural das massas, ou seja, para protegê-las da
ideologia dominante, da visão de mundo que prioriza as elites e combina
preconceitos, inclinando a interiorização de “verdades” que só fazem segregar.
Escrevo hoje este texto por tratar-se de
uma data especial, Gramsci nascera no mês de janeiro do ano de 1891 (22 ou
23,não me recordo), e se estivesse entre nós comemoraria 122 anos de vida. Por
ser professora, passei a admirar este teórico, Gramsci demonstrou interesse
especial pela educação em muitos dos seus escritos principalmente com
referência à educação das massas. Conhecido principalmente como um dos
fundadores do Partido Comunista Italiano, Antônio Gramsci foi uma das
referências essenciais do pensamento de esquerda no século XX, em Cadernos do
Cárcere, Gramsci ressalvou que a construção da força constante e organizada é
um componente decisivo na conquista da hegemonia.
Essa tarefa deve ser realizada de modo
ininterrupto, estável, metódico e com paciência, de forma a torná-la homogênea
e consciente de si, sendo assim, para ele, a escola poderia desempenhar um
papel destacado. Nesse sentido Gramsci não acreditava em uma “tomada” de poder
que não fosse antecedida por transformações das visões de mundo, por mudanças
de mentalidade, para este teórico os principais agentes dessas transformações
seriam os intelectuais e um dos seus instrumentos mais importantes, a escola.
De acordo com Gramsci: “A escola é o
instrumento para elaborar os dirigentes de diversos níveis. A complexidade da
função intelectual nos vários Estados pode ser objetivamente medida pela
quantidade das escolas especializadas e pela sua hierarquização: quanto mais
extensa for a área escolar(...) tão mais complexo será o mundo cultural, a
civilização(...) (GRAMSCI,1968)”
Gramsci destacou a importância da criação
de uma “escola humanística”, que desenvolvesse a inteligência, a formação
consciente, uma escola aberta de fato, para conquistar a liberdade. A hegemonia
é conseguida, conforme Gramsci, por meio de uma luta “de direções
contrastantes, primeiro no campo da ética, depois no da política”. Para
Gramsci, cada grupo social básico, com papel determinante na produção, produz
seus próprios intelectuais, ditos "orgânicos" a este mesmo grupo
social. Portanto, a classe burguesa, ao desenvolver-se no seio do antigo
regime, origina não apenas o capitalista, mas também uma série de
“intelectuais” mais ou menos distantes dele: o técnico da indústria, o
administrador, o economista, o advogado, o organizador das mais distintas
esferas do Estado.
Tais intelectuais são os responsáveis
pela nova configuração do Estado e da sociedade, seriam os "funcionários
da superestrutura", que acabariam por amoldar o mundo à imagem e
semelhança da classe dominante. O Conceito de Hegemonia significou, para
Gramsci, a relação de domínio de uma classe social sobre o conjunto da
sociedade. O domínio se caracteriza por dois elementos: força e consenso. A
força é desempenhada pelas instituições políticas e jurídicas e pelo controle
do aparato policial-militar. O consenso diz respeito, principalmente à cultura,
conforme Gramsci, “toda relação de hegemonia é necessariamente uma relação
pedagógica”, de aprendizado.
Gramsci destacou a importância da
formação, quando disse: “Queremos que todos disponham, de igual modo, dos meios
necessários para educar a própria inteligência, para dar a toda a coletividade
os maiores frutos possíveis do saber, da pesquisa científica, da fantasia que
cria a beleza na poesia, na escultura, em todas as artes.” Na escola “idealizada”
por Gramsci, as classes desvalidas poderiam se fazer valer dos códigos
dominantes, a começar pela alfabetização. Engendrando uma visão de mundo que
oferecesse acesso à condição de cidadão, teriam a finalidade inicial de
substituir o que Gramsci chamou de senso comum. Gramsci asseverou a importância
para os primeiros anos de escola de um currículo que lhe proporcione noções
instrumentais (ler, escrever, reconhecer os conceitos científicos, fazer contas
etc.) e, claro seus direitos e deveres de cidadão.
A
atrocidade do regime de Mussolini ficou decididamente comprovada quando as
cassações dos mandatos dos parlamentares oposicionistas iniciaram-se e com o
sequestro e assassinato do seu maior opositor, Giacomo Matteoti. Tendo perdido
a imunidade parlamentar, Gramsci foi preso pela polícia política em 1926 e
confinado próximo de Palermo, um intelectual como Gramsci era um perigo para
Mussolini. Gramsci nunca implorou clemência ao regime fascista, pois iria
contra aos seus princípios e concepções.
Alguns anos após sua prisão, Gramsci adoeceu,
não desejando que este destacado intelectual fosse considerado mártir, os
fascistas determinaram a sua soltura, Gramsci faleceu em 1937, apenas uma
semana após ser libertado. Sua sepultura recebe numerosos visitantes ainda
hoje, suas ideias inspiram educadores, intelectuais, pois Gramsci é atual, a
democracia foi uma questão fundamental para este pensador, mas destacou o papel
da escola na formação do cidadão consciente, proporcionando a partir desta
formação uma democracia com o povo e não para o povo, ainda hoje seu
pensamento, suas teorias podem se aplicar para entendermos nossos problemas na
educação, na política e para tentarmos agir de forma consciente, concluindo
esta breve apresentação do pensamento de Gramsci acerca da educação, da escola,
faço-me valer de uma citação: “Todos os homens são intelectuais, mas nem todos
os homens desempenham na sociedade a função de intelectuais”
Referências:
GRAMSCI, Antonio. Os
Dirigentes e a Organização da Cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1968.
__________________. Democracia Operária. IN:
http://www.marxists.org/portugues/gramsci/1919/06/21.htm. Acesso em 08 fev.
2008.
__________________.
Escritos Políticos. V.1 e 2. Tradução: Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2004.
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